sábado, 21 de maio de 2011

A ética daquilo que comemos



Comer relaciona-nos, à terra em que cresce a comida, ao agricultor que produz a comida, e às pessoas com quem partilhamos a refeição.

Até com o nosso próprio futuro se relaciona, pois grande parte daquilo que comemos hoje influenciará o nosso bem estar amanha.

Portanto, escolhas alimentares são de facto escolhas éticas, apesar de na grande maioria das vezes não serem vistas como tal.


Existindo vários tópicos diferentes no que toca à ética alimentar, pretendo focar no tratamento dos animais que fazem parte da dieta humana, e que para isso são "produzidos".


Todos os dias, em países espalhados pelo globo, existem animais a lutarem pela vida. Sao enclausurados, agredidos e acorrentados para nosso entretenimento, são mutilados e confinados para que os possamos matar e comer, são queimados, envenenados e torturados em nome da ciência, são electrocutados, estrangulados e esfolados vivos para que os possamos vestir… Todos os dias ocorrem estes e outros abusos, muito devido a "pequenas escolhas" que fazemos no nosso quotidiano, como o que almoçar ou que champô comprar.


Na actualidade, muito se fala em preocupações alimentares, começando a ser notável uma certa saturação de alguns temas: nutrição, dietas, emagrecer, engordar, obesidade, anorexia, bulimia, etc…

Contudo, e apesar desta informação toda, será que sabemos de onde e como veio parar o a comida que acabamos de meter à boca? Até podemos saber o valor nutricional, calórico e glicémico, mas e a sua origem?

Pode parecer uma questão ridícula, isto quando nos esquecemos que muitas vezes o que comemos já existiu como um ser vivo e por isso merece igual respeito que todos os outros componentes do nosso ambiente. Uma galinha deveria ter o mesmo valor que um tigre branco, o que na nossa sociedade não acontece. O que se assiste sim é a atribuição dum valor (moral e económico) mais baixo aos típicos animas de quinta, que no fim são os que mais regularmente sofrem abusos por mãos humanas.


Nas "quintas de produção" de hoje, os animais são "empacotados" aos milhares em alpendres imundos, sem nunca verem luz do dia e confinados a pequenas gaiolas para viverem as suas curtas vidas destinadas à morte. Estes animas nunca viverão em pleno as vidas que deveriam viver, não farão ninhos, não baterão asas, não pastarão em campos verdes, etc. A maioria nem nunca terá acesso ao mundo exterior até o dia em que forem transportados para a matança.

Aquelas imagens pitorescas que existem nas nossas mentes, de colinas verdes e quintas geridas por famílias de tradicionais agricultores já praticamente não existe no meio em que vivemos.


Esta verdadeira industria tenta maximizar o output e minimizar custos, tal e qual às empresas, procurando gerar o maior lucro possível, contudo esquecem-se que lidam com seres vivos e não objectos.*

Para efectivamente gerarem mais, não aumentam o espaço, apenas a quantidade de animas nesse mesmo lugar e apesar de por essa razão muitos animais acabarem por adoecer e morrer, é compensatório (em termos de lucro).

Durante as suas vidas, estes animais poderão então esperar: aprisionamento em espaços tão pequenos que nem se poderão virar ou deitar, obviamente sem exercício para que toda a sua energia seja direccionada para ou engordarem ou criarem mais leite, ovos, etc, alimentados com comida não própria para seu consumo (trigo ao contraio de crença do publico não é próprio, mas sim utilizado por engordar rapidamente e com pouco custo para o produtor), hormonas, e antibióticos, sem os quais seria impossível sobreviverem nas condições referidas. E quando finalmente chegarem ao peso exigido pelo mercado, serão empilhados num camião, transportados durante dias sem comida nem água para as matanças. Aqui serão muitas vezes depenados, esfolados, escaldados e literalmente dissecados, muitas vezes conscientes. Após todo este processo, serão embalados e dias mais tarde servidos no nosso restaurante preferido, como prato do dia.


Isto é apenas um breve resumo daquilo que acontece com os animais destinados ao consumo humano. Não se intenciona, com isto, de impor a todos uma dieta vegetariana, mas sim alertar para as crueldades que acontecem com partes integrantes do nosso meio ambiente, tantas vezes esquecidos e desvalorizados, e que através de divulgações como esta tornar as pessoas mais conscientes e criteriosas ao escolherem os componentes das suas refeições e ao mesmo tempo tentar travar esta forma de exploração animal ao promover formas alternativas, para além de mais sustentáveis (esta produção massificada é dos mais poluentes do mundo, devido a gases libertados pelos animais muito por causa da sua alimentação errada, resíduos, degradação do solo, redução da diversidade genética, etc.) mais amigas dos próprios animais. Se a alimentação com produtos animais é a dieta pela qual optam, então que seja, mas com animais que realmente chegaram a ser animais e não meros meios para satisfação humana, libertos de hormonas e toxinas, doenças transmissíveis a humanos (pense-se na doença da vaca louca e a razão da sua origem) e sujeitos a uma morte rápida, eficaz e com o mínimo de sofrimento possível.





*Os próprios trabalhadores são exploradas ao máximo, sendo que trabalhar numa matança é considerado dos trabalhos mais perigosos que existem no mundo, pois ao ritmo e nas condições que são obrigados a trabalhar impõem-se grandes riscos, sendo fácil que algo corra mal (o que acontece com bastante frequência nos EUA, por exemplo, é que são contratados trabalhadores ilegais, mexicanos, porto-riquenhos, etc. para este tipo de trabalho, que se submetem a perigos constantes sem grandes direitos e quase impossibilidade de exigirem melhorias pelo facto de estarem ilegais no país).







Amanda Amorim

Nº 17111

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