domingo, 15 de maio de 2011

Into Eternity

Em meio a tantos debates sobre o uso de fontes renováveis de energia e os terríveis desastres ocorridos, recentemente, no Japão, gostaria de introduzir e recomendar o documentário Into Eternity (2010), produzido pelo americano Michael Madsen, o primeiro longa-metragem a questionar a construção de um reservatório de lixo radioativo, tendo em vista conseqüências maléficas ao ambiente.

Trata-se de um tanque subterrâneo que está sendo construído na ilha de Onkiluoto, na Finlândia. Onkalo, como é chamada, não é somente um depósito de resíduos nucleares, mas uma grande cidade embaixo da terra na qual estão sendo constantemente armazenadas toneladas e toneladas de lixo atômico, mergulhados em piscinas e que no ano de 2100 uma grossa porta de concreto será colocada na boca do túnel para lacrar Onkalo para toda a eternidade.

Daí, surgem uma série de questões bastante interessantes para serem analisadas, principalmente se relacionadas com a questão ambiental. Primeiro, porque armazenar lixo radioativo no subsolo não parece ser uma saída muito segura. Por mais que o local escolhido para tal feito seja considerado estável, não é possível prever as condições do solo, digo superfície, nos próximos, 10, 20, 100, 1000 anos.

Curioso é que, a princípio, Onkalo nos parece ser, mesmo que a curto prazo um bom exemplo de consciência ambiental por parte do Estado finlandês, preocupado em não despejar incorretamente o lixo produzido pelas suas usinas nucleares. Na realidade, este reservatório demonstra a quantidade exorbitante de dinheiro que é gasta em fontes energéticas, perigosas e não-renováveis, numa época em que todos temos consciência de que há – nas fontes de energia, renováveis – capacidade para produzir tanto quanto produz-se hoje com petróleo e radioatividade (vide as energias solar, eólica, das ondas e das marés).

Alem disso, Onkalo é o primeiro reservatório de resíduo radioativo no mundo, localizado num pequeno pais que possui 25% da sua energia proveniente de 4 usinas nucleares, o que o insere no ranking como o décimo sétimo país do mundo que mais produz energia nuclear. Imaginem então, se os Estados Unidos da America, o Japão e a França começassem a armazenar também lixo radioativo em seu subsolo?

Existem uma série de perguntas que deveriam ter sido feitas antes de se pensar em construir um depósito como estes, uma vez que o tempo mínimo de “vida” previsto para Onkalo é de 100.000 anos e além disso, o homem é a principal ameaça à segurança de Onkalo.

Um local trancafiado como estes pode parecer para civilizações futuras, um tesouro, ou mesmo um templo religioso. E como informá-los sobre os perigos de Onkalo? Como garantir que eles saberão ler? Entenderão eles os nossos símbolos?

Questiona-se também que mesmo num futuro próximo e bem provável, no qual ainda exista a consciência de o local é perigoso, algumas substâncias como cobre, plutônio, urânio, tornem-se valiosíssimas na sociedade, podendo gerar conflitos.

O próprio documentário apresenta duas correntes em relação ao medo da intromissão humana e que providências tomar: existem aqueles que acreditam que devemos alertá-los e outros que acreditam que Onkalo deve cair no esquecimento, para não gerar curiosidades às gerações futuras.

A legislação finlandesa coloca como dever do Estado informar os cidadãos e que os últimos tem o dever de alertar e conscientizar seus descendentes a fazerem o mesmo, passar informações sobre Onkalo.

Na minha opinião, parece-me muito pouco para uma causa tão importante, inclusive numa sociedade na qual os desastres causados pela radioatividade estão bem presentes na memória (Japão, Chernobyl). Acredito que organizações internacionais relacionadas às questões ambientais e ao desenvolvimento sustentável poderiam começar a agir, não para tentar desfazer Onkalo, o que seria muito perigoso, mas para evitar que outros depósitos como estes sejam construídos para a preservação dos nossos solos e sub-solos e consequentemente da vida de nossos filhos, netos, bisnetos...

Amanda Amorim

Nº17111

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