domingo, 1 de maio de 2011

Jardins Sustentáveis

No dia 14 de Maio deste ano, decorrerá na Quinta da Gruta na Maia, sob a orientação do Eng.º. Daniel O. Magalhães, uma acção de formação prática sobre Jardins Sustentáveis (para mais informações, ver em http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultEventViewOne.asp?eventsID=452) . A notícia deste evento despertou-me curiosidade sobre o que são afinal "Jardins sustentáveis": mas afinal os jardins não são todos sustentáveis e amigos do ambiente? Fui tentar saber mais sobre o assunto e eis as conclusões a que cheguei e que pretendo partilhar, de forma sumária, neste blog:

Afinal, os nossos jardins não são tão amigos do ambiente como seria de esperar, há vários factores que afectam negativamente o ambiente (sem prejuízo de serem atenuados pelo cultivo de plantas que vai contribuir para a captação de CO 2 , que, por sua fez, contribui para a qualidade do ar) como o consumo elevado de água, o desgaste do solo, os combustíveis utilizados no trabalho das máquinas no jardim, a energia utilizada para produzir, embalar, promover e transportar fertilizantes, pesticidas, máquinas e acessórios, entre outros.

Contudo, e respondendo à crescente preocupação com o ambiente, surgem alternativas a estes gastos de água e energia, aos fertilizantes químicos, etc. Assim, e como há que usar os jardins e os espaços a nosso proveito, o jardim deve ser desenhado como um ecossistema vivo, que necessite de pouca manutenção e uma intervenção humana reduzida e equilibrada, procurando fomentar a biodiversidade, utilizar plantas autóctones, atrair diferentes tipos de seres vivos que ajudem no combate de pragas, ter um elemento de recolha e aproveitamento de águas pluviais, gerir adequadamente os resíduos e reduzir o consumo de água e energia.

Cabe agora analisar com maior detalhe as propostas:

1. Utilização de plantas autóctones

O termo autóctone é sinónimo de nativo ou indígena, isto é, diz respeito a seres vivos originários do próprio território onde habitam.

Existe uma grande quantidade de espécies autóctones, arbóreas, arbustivas e herbáceas, o que as torna valiosas como plantas ornamentais (para uso em jardins formais ou informais); o valor ornamental destas plantas tem origem, para além da referida diversidade de espécies, na variedade de cores, formas, texturas, portes e cheiros. A opção por espécies autóctones reduz a manutenção dos jardins, pois trata-se de espécies bem adaptadas às condições ecológicas locais, com necessidades hídricas reduzidas e menos susceptíveis a pragas e doenças.

Para além do referido, os jardins que utilizem estas plantas são locais mais ricos em vida selvagem, pois devem contêm uma elevada diversidade de plantas e ambientes (copas de árvores, arbustos, rochas, plantas aromáticas, etc.), extremamente atraentes para a vida selvagem. Acrescente-se ainda que, normalmente, as espécies autóctones proporcionam alimento e refúgio a um maior número de espécies, entre elas aves e insectos úteis.

2. Uso racional de água

Os jardins carecem sempre de um sistema de rega, pelo que há que escolher um sistema de rega que não gere grandes desperdícios de água. Segundo o National Xeriscape Council está demonstrado que um jardim desenhado e mantido com critérios de uso eficiente da água pode consumir apenas uma quarta parte da água de rega que se gasta num jardim convencional (Bures, 1993).

Também neste campo, a opção por plantas autóctones revela-se útil, é que estas plantas são, de forma natural, eficientes no consumo de água. Na verdade, a maioria dos nossos jardins históricos, admirados pela sua beleza, têm uma grande quantidade de árvores e arbustos e uma área pequena de relvado, utilizando de forma geral, espécies pouco exigentes em água. Contudo, os espaços verdes mais modernos, com amplas superfícies de relvado e poucas árvores e arbustos, têm consumos de água muito mais elevados.

Relativamente à escolha dos sistemas de rega, deve optar-se pela instalação de um sistema de rega de controlo automático, que permita regular os períodos de rega de acordo com as condições climatéricas, fornecendo apenas a quantidade de água necessária ao desenvolvimento das plantas (o que evita perdas e despesas ambientais e económicas). A rega automática permite ainda que a rega tenha lugar durante a noite, de modo a que não haja perdas de água pela evapotranspiração. Para optimizar o uso da água, já existem sensores de chuva, que podem ser adicionados aos sistemas de rega, que vão medir a precipitação e desligam a rega.

As espécies devem ser agrupadas segundo as suas necessidades de rega, de modo a que o sistema de rega esteja dividido em diferentes sectores, correspondentes a zonas com diferentes necessidades hídricas.

3. Selecção de plantas

Se os jardins e espécies que o integram estiverem de acordo com o clima do local onde se encontram (como acontece com as plantas autóctones), poupamos na água, e noutros meios necessários para o seu desenvolvimento. A escolha criteriosa das espécies pode evitar alguns problemas no jardim, para isso devemos atender às necessidade de luz, água e pH do solo, de modo a haver uma concordância com o clima do local.

4. Solo

O solo funciona como base de vitalidade e suporte da saúde e vigor das plantas que nele habitarem. A percepção do solo como um organismo vivo, que respira através daqueles que nele vivem, é o grande diferencial das correntes da agricultura biológica. Os solos arenosos possuem, em geral, uma boa drenagem; já os solos argilosos apresentam dificuldades na infiltração e disponibilidade de água às plantas. Os solos com má drenagem deverão ser corrigidos antes da plantação, outra solução a aplicar a estes solos de má drenagem, onde se acumula água, será aproveitar para instalar um charco ou construir uma zona para plantas com maiores exigências hídricas.

Outro aspecto importante relativamente aos solos é o seu pH, o pH influência a assimilação de nutrientes, pelo que é importante conhecê-lo a fim de escolher quais as plantas adequadas a determinado tipo de solo: uma espécie característica de solos ácidos não consegue suportar a deficiência de ferro quando instala num solo alcalino.

A salinidade dos solos também constitui um factor importante.

5. Nutrição do solo

É muito importante conhecer a fertilidade do solo: a maior parte das pessoas não sabe qual a composição do solo do seu jardim, pelo que vai aplicando adubos e correctivos "a olho". Apenas um correcto conhecimento da fertilidade do solo garante uma adequada correcção da mesma. Isto interessa-nos pois evita desperdícios e, para além disso, quanto mais equilibrado estiver um solo em termos nutritivos , mais saudáveis serão as plantas e, por consequência, mais resistentes a pragas e doenças. Com a ajuda das análises dos solos, consegue-se fazer adubações equilibradas, evitando os excessos e a perda de nutrientes (com especial atenção para os adubos azotados, elemento facilmente arrastado pelas águas, contribuindo para a contaminação das mesmas).

A ter de nutrir o solo, é preferível optar por adubos e fertilizantes orgânicos, em substituição dos químicos.

6. Controlo de Pragas e Doenças do Jardim

Com práticas preventivas e profilaxias menos agressivas, é possível ter um jardim sem pragas nem doenças sem ter de recorrer a pesticidas. Para isso há que utilizar boas práticas e manter uma vigilância constante (por exemplo, na Primavera é importante limpar o jardim para eliminar potências focos de infestação). Outra medida passa pela escolha de plantas que atraiam insectos auxiliares que se alimentem de outros insectos, que podem causar estragos (por exemplo, as espécies hortelã-pimenta, o sabugueiro, entre outras, atraem joaninhas, grandes predadoras de piolhos - um só exemplar pode devorar centenas destes insectos). Há que estimular a presença de predadores naturais, para que haja um equilíbrio ecológico e um ecossistema rico.

E quando a praga se instala? O regulamento da CE nº 889/05, de 5 de Setembro permite a utilização de determinados produtos fitofarmacêuticos para a agricultura biológica, que têm menores níveis de toxidade. De entre estes, destaca-se o uso de cobre e enxofre: o primeiro é útil na prevenção das doenças que aparecem com níveis elevados de humidade, o segundo utiliza-se no combate de ácaros, etc. Os produtos recomendados em agricultura biológica são menos nocivos para o ambiente, mas também, para o aplicador, diminuindo a sua exposição a substancias prejudiciais à saúde.

7. Coberturas

As coberturas de solo apresentam-se como uma mais-valia no controle de infestantes e também como elemento estético: permite criar diferentes texturas e desenhos no espaço, para além disso, ajudam na retenção de humidade no solo, na incorporação de matéria orgânica e são uma fonte de nutrientes.

A cobertura pode ser orgânica ou inorgânica, no primeiro caso é feita com materiais como a casca de pinho triturada, troncos e ramos triturados, entre outros materiais do género; no segundo a composição integra pedras, gravilha, seixos, entre outros.

Outra opção poderá passar pelas espécies tapetizantes que vão dificultar a vida de infestantes, privando-os de luz, água e nutrientes.

8. Manutenção

A vigilância permanente permite a maior detecção e uma acção preventiva de situações de risco. A manutenção do jardim integra todos os passos mencionados (de rega, adubação, controlo de pragas) e também inclui a poda, cuja regularidade dependerá da espécie em causa.

Concluindo, a jardinagem sustentável adopta medidas amigas do ambiente, sem prejuízo da estética dos jardins. resumindo, o National Xeriscape Council estabeleceu 7 princípios fundamentais:

· Planificação e desenho adequados;

· Análises do solo;

· Selecção adequada de plantas;

· Zonas de relvado práticas;

· Sistemas eficientes de rega;

· Uso de mulching ou coberturas de solo;

· Manutenção adequada.

Mariana Lupi, Subturma 1

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