sábado, 21 de maio de 2011

A SOCIEDADE DE RISCO

Foi com o final da Segunda Guerra Mundial que, após serem conhecidos os efeitos do lançamento das primeiras bombas atómicas surgiu uma visão do apocalipse que veio questionar o progresso tecnológico! Ainda, as crescentes catástrofes da acção técnica impuseram a consideração de uma avaliação ética em sede de progressos técnicos que avançavam desenfreadamente.
Martin Heidegger, pronunciou-se pela primeira vez sobre este tema em 1954, em 1957 declarou que as questões éticas não faziam parte das suas preocupações, rejeitando nessa altura a ideia de ter construído uma ética a partir da tecnologia, o que pode ser entendido como produto da separação entre ética e metafísica.
Inspirado nas obras de Heidegger, Hans Jonas, em 1979, veio teorizar estas preocupações na obra “Le Principe Responsabilité – Une éthique pour la civilisation technologique”, como se de um tratado ético-tecnológico se tratasse, veio consagrar o princípio da responsabilidade, de onde conclui que o progresso pôs em marcha o pensamento em direcção a um novo tipo de questionamento, amadurecido pelo perigo que representa para nós próprios o nosso poder, o poder do homem sobre a Natureza. Diversamente, vem, ainda, Ernst Bloch teorizar o princípio da esperança, defendendo, enquanto utopista do progresso, que a utopia faz parte da estrutura histórica do homem.
Por último, e mais importante, temos de referir Ulrich Beck, que introduziu o conceito “Sociedade do Risco”, em 1986, na sua obra “A Sociedade do Risco – rumo a uma nova modernidade” teorizando o impacto do desenvolvimento da nova civilização tecnológica na organização social, após a queda do muro de Berlim, a crise ambiental desencadeada pelo desastre de Chernobyl e a derrocada do realismo social, acabando por formular um modelo teórico-social global. Com esta obra, Beck ensina que, com todas as mudanças com que o mundo se depara, a noção de risco adquire um significado bastante específico, pois que, o risco se vai basear em interpretações causais dos acontecimentos, sendo que, o centro da consciência de risco reside em projecções para o futuro e não no presente, pressupondo um processo social de reconhecimento e legitimação. Isto é, Beck, vai analisar os conteúdos e consequências da modernização reflexiva em choque com a sociedade industrial clássica.
Podem distinguir-se três modelos de sociedade de risco.
Quanto ao primeiro modelo de risco, Beck vai concluir que a modernização suplantou todas as oposições sociais, apoderando-se do mundo natural, confrontando-se com as bases da sociedade industrial e questionando os princípios funcionais do progresso tecnológico e económico. As forças de produção acabam por extravasar o seu intuito inicial, provocando efeitos secundários adversos, associados ao seu desenvolvimento. Desta forma, a ciência e a tecnologia vêem-se obrigadas a reconhecer as suas desvantagens. Assim, percebemos que a modernização reflexiva entra em confronto com os ideais sociais da revolução industrial. O que obriga a uma reformulação desses ideais, através da “remodernização” e evolução da sociedade industrial. O que Beck vai fazer a partir daqui é analisar as consequências da modernização reflexiva que entraram em rota de colisão com a sociedade industrial clássica.
É com a tese da modernização reflexiva que Beck acaba por introduzir o conceito de risco. Assim, risco trata-se de uma avaliação cujo conteúdo informacional consiste na expressão de algum grau de incerteza sobre a ocorrência de certos efeitos secundários, geralmente indesejáveis, associados ao virtual desempenho de determinada actividade, normalmente dirigida para a obtenção de qualquer fim.
Beck refere, ainda, que a percepção dos riscos e os próprios riscos não são coisas distintas, mas uma e a mesma coisa, associando o risco à insegurança, liga os riscos à acção humana, distinguindo, nesse âmbito, os riscos vulgares, que são riscos pessoais, como os que advêm da produção de energia nuclear ou do armazenamento de lixo radioactivo para os seres humanos, ou seja, são os riscos normais da vida, que podemos calcular com base na experiencia de vida. Já os riscos modernos não são sensorialmente apreensíveis, pois estão situados numa lógica físico-química, são por isso, riscos ocultos, apenas desvendáveis com recurso a interpretações causais complexas, existindo apenas em termos de conhecimento científico. Ainda aqui, importa referir que os riscos eram, no passado, produto do desconhecimento e da inexperiência da técnica, no entanto, actualmente, os riscos crescem à medida que o avanço cientifico. Assim, os riscos actuais têm causas modernas, daí serem designados de riscos de modernização.
Os riscos actuais, não são voluntariamente assumidos pelos indivíduos, ainda assim, vão atingi-las como se de ameaças naturais se tratassem. Os novos riscos são originados por actuações de indivíduos e de instituições, que são, para toda a humanidade, socialmente úteis.
Assim, parece que Beck tenta, com a criação do conceito de risco, na acepção específica que lhe conotou, caracterizar um novo tipo de sociedade, baseada na substituição da lógica de produção social de riqueza, que caracterizava a sociedade industrial clássica, pela lógica da produção social de riscos.
Já em 1990, Beck, reformula a definição de risco, caracterizando-o como “época do industrialismo, na qual as pessoas estão confrontadas com o desafio da potencial autodestruição da Humanidade, dependente de políticas industriais”, considerando a sociedade de risco como uma época na qual os aspectos sombrios do progresso são cada vez mais determinantes das confrontações sociais.
Parece então que o primeiro modelo de sociedade de risco se caracteriza por definir a sociedade de risco como, sendo aquela na qual proliferam novos perigos, os quais colocam em xeque as condições de sobrevivência da Humanidade.
Quanto ao segundo modelo de risco, foi em 1987 que Evers e Nowotny que publicaram a obra “Sobre a convivência com a insegurança”, que partia da adjudicação de conteúdos diversos aos conceitos de risco e perigo, de forma a alcançar a definição de sociedade de risco. Sabendo que o risco é uma constante na vida dos indivíduos desde sempre, a criação de mais perigos pela progressão da técnica fica relegada para segundo plano, pois que, o que se afigura essencial é a verificação que os perigos que possam provocar consequências irreparáveis. No entanto, os riscos podem ser controlados e pode, o ser humano, evitá-los, ou, pelo menos, tentar!
Nesta modelo, a sociedade de risco seria aquela em que os perigos incalculáveis são convertidos em riscos manipuláveis, possibilitando a convivência com a insegurança. Pois que, o risco, enquanto motor do progresso, não pode ser evitado.
Quanto ao terceiro modelo, parece que o seu impulsionador foi Prittwiz. Partindo de estudos de investigação acerca de gestão de riscos, de vários autores, que concluíram pela consideração da sociedade actual como sendo equiparável às que a antecederam. Isto é, todas as gerações que nos antecederam tiveram de suportar riscos, pois que, estes, são constantes da vida e do dia-a-dia dos indivíduos. No entanto, parece que desses estudos não podemos extrair que os riscos modernos superam os riscos atemporais. Pois, não devemos considerar que o desenvolvimento tecnológico não tenha exaltado os riscos já existentes, mas a confirmação de que existem é já suficiente para continuar a aceitar a sua existência.
Verificamos, então, um paradoxo, pois que, a sociedade actual é cada vez mais segura, mais cómoda, goza de maior bem estar,… Assim, temos de recusar os modelos de sociedade de risco que indiciem a proliferação de riscos, que considerem que as condições de vida da humanidade se degradam à medida que o progresso tecnológico avança.
Assim, quanto ao terceiro modelo de sociedade de risco, podemos referir que seria uma sociedade os indivíduos provam sentimentos de insegurança e de receio.


”Age de maneira que as consequências da tua acção sejam compatíveis com a permanência de uma vida verdadeira humana sobre a Terra!”








Joana Martins Farinha


Subturma 1, n.º 16328


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